Os Efeitos da Temperatura nos Lubrificantes

O que a temperatura faz com os lubrificantes?

A temperatura tem efeitos curiosos sobre os lubrificantes: ela pode mudar o estado físico, afetar o desempenho e até causar a degradação do óleo. Para entender melhor, pense nesta analogia com um ovo:

  • Coloque um ovo na geladeira e ele continua igual.
  • Coloque na água fervente e vira um ovo cozido.
  • Deixe fora da geladeira por dias e ele apodrece.
  • Coloque sob uma galinha e nasce um pintinho.

Ou seja: tudo depende da temperatura certa. E o mesmo vale para os lubrificantes. Se estiverem frios ou quentes demais, surgem problemas. Mas, se a temperatura estiver no ponto ideal, o desempenho e a vida útil do óleo melhoram bastante. Fácil de falar, difícil de fazer.


Quando o frio atrapalha os lubrificantes

Imagine uma manhã de inverno. Eu costumo usar um cardigã que guardo ao lado da mesa. Me aquece o suficiente para suportar o frio que entra pelas paredes.

Com os lubrificantes, o frio também causa estresse — mas ao contrário dos alimentos, que costumam se conservar no frio, os óleos sofrem várias alterações negativas. Veja alguns exemplos:

  • Óleos básicos misturados podem se separar em diferentes fases.
  • Lubrificantes parafínicos podem virar gel e ficar cerosos.
  • Alguns aditivos se tornam insolúveis, formando depósitos.
  • A água dissolvida pode virar uma emulsão prejudicial, e a água livre deixa de se depositar no fundo.
  • Aditivos que precisam de calor, como os de pressão extrema (EP) e antidesgaste (AW), param de funcionar.
  • O óleo fica espesso demais para circular; a graxa, rígida demais para alimentar as partes móveis.
  • Impurezas passam direto pelos filtros, porque o óleo grosso abre as válvulas de alívio.
  • Motores podem não ligar, e peças móveis travarem.
  • Dispositivos como anéis de óleo, pás e engrenagens elevadoras podem parar de funcionar.

Nem o óleo, nem o vinho gostam de calor demais

O calor costuma chamar mais atenção. E com razão: óleo não é como vinho, que melhora com o tempo. Até o melhor vinho sofre com calor excessivo. Um exemplo: um vinho envelhece duas vezes mais rápido a 25°C do que a 13°C. Por isso, quem entende de vinho guarda suas garrafas em adegas frias.

Em 1903, Svante Arrhenius ganhou o Prêmio Nobel por descobrir que, quando a temperatura ultrapassa certo ponto, toda reação química acelera. Isso ficou conhecido como a Regra de Arrhenius. No caso dos lubrificantes, cada aumento de 10°C na temperatura faz o óleo oxidar duas vezes mais rápido.

Veja os problemas que o calor causa no lubrificante:

  • Acelera a decomposição dos aditivos e do óleo base.
  • Alguns aditivos evaporam, indo para a atmosfera.
  • Melhoradores de viscosidade perdem eficiência mais rápido.
  • Contaminantes microbianos gostam de calor (mas não de escaldar).
  • O calor quebra a película de óleo, aumentando atrito e desgaste.
  • O óleo quente encurta a vida dos filtros e retentores, e aumenta a corrosão.
  • Tanto o óleo quanto a graxa vazam mais facilmente.
  • Em altas temperaturas, a graxa se separa mais rápido (óleo se solta do espessante).
  • Superfícies muito quentes formam gomas e resinas de carbono.

Como medir a temperatura do óleo?

Uma boa prática é criar gráficos de temperatura do lubrificante para as máquinas críticas. Hoje em dia é fácil montar esses gráficos com programas comuns de computador. Você pode imprimir e plastificar para colar nas máquinas e facilitar o acompanhamento.

Temperatura é um indicador essencial da saúde da máquina. Por isso, termômetros infravermelhos fazem parte da caixa de ferramentas de quem trabalha com manutenção preditiva. Assim como medimos a febre para saber se estamos doentes, mudanças de temperatura nos ajudam a entender problemas de lubrificação, atrito e desgaste.


Como montar um gráfico térmico de lubrificação

É recomendado criar gráficos com zonas de temperatura para equipamentos importantes. Veja como:

  1. Escolha um ponto da máquina para monitorar (por exemplo, a linha de entrada de óleo).
  2. Defina os pontos de temperatura A a F, criando cinco zonas:
ZonaSituaçãoEfeitos Possíveis
Zona 1 (A-B)Muito frioFalta de lubrificante, travamentos
Zona 2 (B-C)Frio moderadoMenor fluxo de óleo, mais consumo de energia, espuma
Zona 3 (C-D)IdealOperação normal e segura
Zona 4 (D-E)Quente moderadoOxidação do óleo, desgaste aumentado
Zona 5 (E-F)Muito quenteRisco de incêndio, evaporação, falha total
  • Aquecedores e alarmes controlam quando a temperatura cai abaixo de C.
  • Resfriadores e alarmes entram em ação quando passa de D.

Lubrificantes com índice de viscosidade (VI) alto ajudam a baixar os limites de frio (A-C). Já os sintéticos premium com alto VI ajudam a aumentar a resistência ao calor (D-F).


Conclusão

A temperatura afeta tudo na lubrificação. Frio ou calor demais podem causar falhas sérias, encurtar a vida útil do óleo, aumentar o desgaste e até travar a máquina. Por isso, controlar a temperatura é essencial para manter a confiabilidade e o bom desempenho dos equipamentos.

Tenha sempre um termômetro por perto. E lembre-se: o óleo é como o ovo — tudo depende de como você trata a temperatura.

Por Jim Fitch, Noria Corporation.
Traduzido pela equipe de conteúdos da Noria Brasil.
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ML 993 - 04/2025: "The Effects of Temperature on Lubricants"

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