O Que Tem na Caixa?

Passei a última semana ajudando um cliente a reorganizar seu programa de lubrificação. Eles já tinham recebido uma visita nossa anos atrás, mas, depois disso, a empresa foi comprada por outra e sofreu várias trocas de liderança. Com tanta gente entrando e saindo, a comunicação se perdeu, e o programa acabou ficando de lado.

Apesar disso, eles tinham feito algumas coisas certas: construíram uma sala de lubrificação, compraram carrinhos filtrantes com recipientes reutilizáveis e vedáveis, e até usaram conexões rápidas com codificação por cores — tudo muito bacana para um bom programa de lubrificação. O problema é que todo esse equipamento foi adquirido há cerca de cinco anos. A sala foi construída, mas os materiais foram simplesmente jogados em prateleiras ou deixados por ali, sem organização.

Você deve estar se perguntando: “Mas qual o problema de deixar o material de lubrificação na sala de lubrificação?” Na verdade, nenhum problema — se fosse só isso. O problema é que tudo o que eles não sabiam onde guardar acabou indo parar lá também: escadas, peças soltas, caixas vazias, latas de tinta, baterias estouradas… você pode imaginar. A sala de lubrificação virou um depósito de bagunça. Para piorar, metade da fábrica passou a usar um novo fornecedor nacional de lubrificantes, enquanto a outra metade continuava com o fornecedor antigo — com dois anos de atraso na transição.

Não me preocupo tanto com quem fornece o lubrificante, mas esse caso mostrou como a má gestão pode virar um problemão. Tinha baldes de óleo e graxa com mais de sete anos parados nos fundos da sala. Alguns foram comprados por engano, outros por falha de comunicação, e alguns porque quem fez o pedido nem sabia exatamente o que estava pedindo.

E ainda piora. O cliente havia investido um bom dinheiro — cerca de R$ 60 mil — em equipamentos de ponta: kits para medir umidade, acidez, viscosidade, e até um kit de teste de partículas. Mas… nenhum desses equipamentos foi encontrado. Os almoxarifados mudaram de lugar ao longo dos anos, assim como os sistemas de gestão de estoque e manutenção (CMMS). Ou seja: mesmo tendo comprado tudo, os itens sumiram — foram jogados fora ou se perderam no caminho.

Entendo que peças, eletrônicos e ferramentas geralmente são bem controlados. Mas, infelizmente, os itens ligados à lubrificação são muitas vezes tratados como descartáveis. Isso é um erro grave. Lubrificantes são ativos, assim como as máquinas e ferramentas, e devem ser tratados com o mesmo cuidado. Com um bom controle de inventário, nunca mais você vai ter que perguntar: “O que tem naquela caixa?”

Como Evitar a Bagunça — 6 Práticas Essenciais

1. Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair (FIFO)

No mercado, você pega o leite com vencimento mais distante, certo? Mas no estoque da fábrica, o que está lá já é seu — então precisa usar primeiro os produtos mais antigos. Isso evita usar lubrificante vencido ou deteriorado nas máquinas.

2. Saiba o Que Você Tem

Muitas vezes pergunto onde estão os lubrificantes e recebo um “tour” apontando vários lugares aleatórios: telhados improvisados com tambores, contêineres abarrotados, carrinhos de mecânicos ou paletes ao relento. Com tudo espalhado, é impossível saber o que há em estoque de verdade.

(Foto mencionada no texto original mostra um lubrificante com validade até 25 de novembro de 2015 — ou seja, vencido há quase 7 anos na época.)

3. Só Guarde o Que Você Usa

Por que manter lubrificantes que ninguém mais usa? Se você mudou de fornecedor, use o que resta ou descarte. Manter produtos antigos só aumenta o risco de contaminação cruzada — e ainda ocupa espaço precioso.

Ao ter um ponto centralizado por onde todos os lubrificantes passam, você consegue controlar melhor o estoque e saber quanto realmente está sendo consumido.

4. Saiba o Que Realmente Precisa

Vamos imaginar: você tem 25 redutores de engrenagem que usam o mesmo lubrificante ISO 220. Cada um leva 38 litros. Em uma troca anual, seriam 950 litros. Mas será que você troca o óleo de todos ao mesmo tempo? Precisa mesmo manter quase mil litros no estoque?

Converse com seu fornecedor. Verifique com que frequência ocorrem as trocas e compare com a frequência de entrega. Pode ser que 5 tambores de 208 litros (cerca de 1.040 litros) já sejam mais do que o suficiente para o consumo regular. Esse é o seu “estoque mínimo”. A mesma lógica serve para graxas: saiba quanto vai em cada rolamento, com que frequência é aplicada, e compare com a forma de fornecimento (tubos, baldes, tambores etc.).

5. Controle Quem Usa os Lubrificantes

Aplicar lubrificante corretamente exige técnica. Assim como você não colocaria qualquer operador para fazer peças em uma CNC, também não deve deixar qualquer pessoa aplicar graxa ou óleo em equipamentos.

Deixe essa tarefa com quem sabe o que está fazendo. Assim, evita surpresas como: “Por que nossa graxa para motor está acabando tão rápido se só aplicamos duas vezes por ano e nem usamos tanto assim?” (Spoiler: é provável que pessoas despreparadas estejam usando qualquer lubrificante que encontram em qualquer lugar que esteja fazendo barulho.)

6. Use o Método 5S ou 6S

Tem gente que acha que aplicar 5S ou 6S é só “frescura” ou perda de tempo. Essas pessoas estão erradas. Essas práticas vêm da filosofia Lean, que busca eliminar desperdícios e organizar processos — exatamente o que precisamos no controle de estoque.

Uma sala de lubrificação organizada permite que qualquer pessoa veja, de imediato, o que tem, o que falta, o que está com estoque baixo e até o estado dos equipamentos (como bombas de graxa, lubrificadores automáticos ou recipientes de abastecimento).

Por Jeremie Edwards.
Traduzido pela equipe de conteúdos da Noria Brasil.
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ML 32182 - 04/2025: "What's in the Box?"

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