As paradas de manutenção em plantas industriais podem causar grandes impactos operacionais e financeiros quando não são bem planejadas ou concluídas no prazo. Reduzir seu tempo de execução sem comprometer a qualidade é um desafio estratégico, com efeitos diretos nos resultados de uma organização.
Neste artigo, exploramos como a Cleveland-Cliffs (Cliffs), produtora de aço e operadora de minas, reduziu a duração média de suas paradas anuais de equipamentos de 17 dias (com variação de ±4 dias) para apenas 4 dias (com margem de ±2 horas) ao longo de diversas operações. A empresa replicou esse sucesso em todas as principais revisões de equipamentos, paradas de plantas e transições de processos em suas unidades, gerando economias anuais sustentáveis de mais de US$ 100 milhões.
Metodologias de Gerenciamento para Paradas de Manutenção
O ditado “na teoria, a prática é outra” parece ter sido criado para o universo da manutenção industrial. Um dos “inimigos” mais comuns nesse contexto são os erros no escopo dos reparos necessários. Porém, o verdadeiro vilão muitas vezes ignorado é a metodologia inadequada de gestão de projetos, que gera cronogramas irrealistas e frágeis.
Na Cliffs, os métodos de planejamento variavam entre as unidades, mas compartilhavam uma falha: eram incapazes de prever com precisão o tempo das tarefas e a entrega final dos equipamentos à operação. Os planos simplesmente não resistiam ao primeiro contato com a realidade.
O Método do Caminho Crítico (CPM) e Seus Limites
O CPM é amplamente utilizado para analisar e programar grandes projetos, identificando tarefas críticas que determinam o prazo total. No entanto, ele enfrenta dois problemas em paradas de manutenção:
- Dependências de recursos: O CPM considera apenas dependências técnicas (ex.: a tarefa B só começa após a A), ignorando conflitos por recursos limitados, como mão de obra especializada, equipamentos ou espaço físico. Na Cliffs, esses gargalos eram frequentes, exigindo ajustes nos planos.
- Variabilidade das tarefas: Ao estimar durações, os planejadores costumam adicionar “gorduras” (tempo extra) para evitar atrasos. Paradoxalmente, isso amplia os prazos, pois as equipes tendem a ocupar todo o tempo disponível — um efeito conhecido como Parkinson’s Law.
O resultado? Cronogramas inflados, caminhos críticos que mudam durante a execução e prioridades em constante alteração, gerando retrabalho e estresse.
Gerenciamento de Projetos por Corrente Crítica (CCPM): A Solução
Desenvolvido por Eliyahu Goldratt nos anos 1990, o CCPM resolve essas lacunas com duas inovações:
- Estimativas duplas:
- Estimativa agressiva (50%): “Quanto tempo a tarefa levaria se tudo ocorrer conforme o planejado, com 50% de chance de sucesso?”
- Estimativa conservadora (90%): “Quanto tempo seria necessário para ter 90% de certeza de conclusão, mesmo com imprevistos?” A diferença entre essas estimativas define a reserva de projeto (buffer), adicionada ao final do cronograma para absorver atrasos.
- Foco na corrente crítica:
O plano é construído com as estimativas agressivas, enquanto a reserva protege contra riscos. Durante a execução, o consumo do buffer é monitorado em um Gráfico de Febre (Figura 1), permitindo ajustes em tempo real e comunicação clara com as equipes.
Vantagens do CCPM para Paradas de Manutenção
- Cronogramas mais curtos e realistas: Na Cliffs, a primeira aplicação reduziu uma parada projetada para 12 dias para 9 dias (e potencialmente 7, sem erros críticos).
- Priorização eficiente: Em uma parada com 300 tarefas, apenas 17 eram críticas. Melhorias focais em 5 delas geraram impactos significativos.
- Cultura de sucesso: As equipes passaram a enxergar resultados tangíveis, aumentando engajamento e motivação.
Conclusão: Menos É Mais
O sucesso está em concentrar esforços nas poucas tarefas que realmente determinam o resultado. Na Cliffs, a adoção do CCPM eliminou retrabalhos, reduziu frustrações e transformou a manutenção em um processo previsível e eficiente.
Assim como um time de futebol brasileiro otimiza seus treinos focando nos fundamentos essenciais, a lição é clara: identifique o que realmente importa, gerencie os recursos críticos e elimine o excesso. O resultado será equipes mais motivadas, paradas mais rápidas e milhões salvos — um verdadeiro gol de placa para a produtividade.
Por Rick Phelps e Wendell Simpson.
Traduzido pela equipe de conteúdos da Noria Brasil.
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RP 32877: "Project Management Methodologies to Reduce Shutdown Duration"